A Ocupação Zumbi dos Palmares, na Avenida Venezuela, número 53, zona portuária, com imóveis abandonados, se torna refúgio para grupos vulneráveis.
O odor de urina é intenso ao se aproximar do prédio. Panos substituem as janelas. Plantas crescem pela fachada, conferindo ao edifício de oito andares um ar extra de abandono. Tudo dá a impressão de estar desmoronando, se deteriorando aos poucos. A situação reflete a realidade de muitas famílias em situação de ocupação na cidade.
Em meio à precariedade da moradia, surgem relatos de possíveis casos de invasão e formação de assentamentos improvisados. A luta por um teto digno se intensifica, enquanto a comunidade busca alternativas para garantir sua sobrevivência. A questão da ocupação vai além do simples ato de habitar um espaço, envolvendo questões sociais e econômicas complexas que exigem soluções urgentes.
Ocupação como alternativa de moradia em imóveis abandonados
No portão de ferro preto da entrada, dois algarismos pintados em branco informam, ao correio, que ali é o número 53 da Avenida Venezuela, na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro. Ocupação Zumbi dos Palmares, no centro do Rio – Tomaz Silva/Agência Brasil Esse imóvel insalubre e inseguro, que inclusive está oficialmente interditado pela Defesa Civil, é o ‘lar’ de aproximadamente 120 pessoas, que, por diferentes razões, precisaram buscar uma moradia e consideraram que ali seria a alternativa menos pior para sua ocupação.
O local é apenas um entre as 83 edificações abandonadas na região central do Rio de Janeiro, que foram transformadas em moradia por 3.053 famílias sem teto, segundo levantamento divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Observatório das Metrópoles e Central de Movimentos Populares.
De acordo com a pesquisa, 61 imóveis ocupados (74,5% deles) são privados e 22 são públicos (25,5%). A maioria (44 imóveis) é formada por prédios verticalizados. Mas também há ocupações em antigos casarões (25), conjuntos de casas (14), terrenos ocupados (sete) e instalações fabris ou galpões (dois).
Em 36 ocupações visitadas, o estudo constatou que as famílias viviam geralmente em cômodos unifamiliares. Mas também foram identificados cômodos nos quais residiam mais de uma família. Os pesquisadores também perceberam que aproximadamente 30% dos cômodos eram ocupados por mães solos e que mais de 600 crianças moravam nesses imóveis.
O levantamento mostrou que a ocupação desses imóveis se torna alternativa habitacional para os segmentos sociais mais vulneráveis, como mulheres pretas, mães solos, pessoas em situação de rua, egressos do sistema penitenciário, desempregados, migrantes, pessoas LGBTQIA+ vítimas de violência, entre outros grupos sociais vulneráveis.
Ocupação Zumbi dos Palmares: desafios e incertezas
No caso do número 53 da Avenida Venezuela, dezenas de famílias, com idosos, adultos, jovens e crianças, se dividem em cômodos improvisados espalhados pelos andares daquele prédio abandonado, numa região da cidade que vem recebendo milhões de reais em investimentos para revitalização, desde antes dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
O coletivo de moradores, chamado de Ocupação Zumbi dos Palmares, teve início em 2005 e enfrentou uma retirada forçada em 2011, mas, diante da permanência da situação de abandono da edificação, voltou a sofrer invasões por novas famílias nos anos seguintes. A atual ocupação teve início pouco antes do início da pandemia de covid-19.
Quase duas décadas se passaram desde a primeira ocupação por pessoas sem teto e as incertezas sobre o futuro permanecem entre aqueles que vivem no local. O proprietário do edifício, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), busca reaver a posse do imóvel na Justiça.
O prédio, que anteriormente foi sede do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (Iapetec), está sem uso pelo INSS há anos e é classificado pelo instituto como ‘não operacional’.
Fonte: @ Agencia Brasil
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