bioquímico Venki Ramakrishnan, em entrevista ao NeoFeed, critica obcessão de bilionários do Vale do Silício com “vencer a morte”: culto da juventude, promessa de envelhecimento contida em 3000 artigos científicos, investimentos em startups.
Nós somos a única espécie ciente do próprio envelhecimento. A descoberta de que um dia morreremos, nós e nossas pessoas queridas, acontece ainda na infância. E a ideia é tão aterradora que a maioria não lembra do momento em que se tornou consciente do fim da vida. Mas o medo está lá e nos acompanha ao longo da vida.
O envelhecimento é um processo natural que nos leva à mortalidade. Lidar com a finitude da existência humana é um desafio constante. Enquanto vivemos, buscamos significado e aceitação diante da inevitabilidade da morte. É um caminho complexo, marcado por reflexões sobre o tempo que passa e as marcas que ele deixa em nossa jornada.
Explorando a Ciência do Envelhecimento e a Questão da Mortalidade
Alguns indivíduos, de forma mais enfática do que outros, buscam incessantemente maneiras de estender o prazo de validade de sua existência. O conceito de longevidade é, sem dúvida, uma das maiores realizações da humanidade. No início do século 19, atingir a marca dos 35 anos era considerado um feito notável. Ao longo de um século e meio, a expectativa de vida dobrou, alcançando a média mundial de 73 anos – no Brasil, situando-se em torno dos 76 anos. Esse avanço significativo é atribuído à revolução científica no estudo do envelhecimento.
Hoje, somos capazes de desvendar os intricados processos pelos quais nossas células gradualmente perdem sua vitalidade ao longo do tempo, até o ponto em que deixam de funcionar harmoniosamente, levando-nos à inevitável morte. Apesar dos notáveis progressos alcançados, surge a questão: será possível um dia enganar o envelhecimento, as doenças e a morte? E, mesmo que seja viável, seria ético fazê-lo? Quais seriam os impactos sociais e éticos de uma vida que ultrapassa em muito os padrões atuais?
Esses questionamentos fundamentais são abordados no mais recente livro do renomado biólogo molecular, Venki Ramakrishnan, intitulado ‘Why we die: The new science of aging and the quest for immortality’ (Por que morremos: A nova ciência do envelhecimento e a busca pela imortalidade). Nascido em Chidambaram, na Índia, e filho de pais cientistas, o autor anglo-americano, de 72 anos, foi laureado com o Prêmio Nobel de Química em 2009.
Ao longo das 320 páginas de sua obra, Ramakrishnan nos conduz por uma fascinante jornada pela biologia molecular do envelhecimento. O autor destaca a importância de compreender as bases das pesquisas nesse campo, a fim de distinguir os fatos da exageração. Segundo ele, os seres humanos têm uma inerente ansiedade em relação à velhice e à morte, uma ansiedade que pode ser explorada economicamente.
Vivendo em uma sociedade que cultua a juventude, somos constantemente bombardeados pela promessa de que é possível retardar o envelhecimento. Nos últimos anos, foram publicados mais de 3 mil artigos científicos sobre o tema, e aproximadamente 700 startups receberam vultosos investimentos na busca pela ‘chave’ que possa desafiar a morte.
Ramakrishnan critica as distorções presentes na cruzada anti-idade, frequentemente liderada por bilionários da tecnologia. Ele ironiza que muitos desses líderes, homens de meia-idade, casados com mulheres mais jovens, podem adquirir quase tudo, exceto a juventude. Em meio a esse contexto, o autor nos convida a refletir sobre os limites éticos e sociais de nossas aspirações em relação à longevidade e à imortalidade.
Fonte: @ NEO FEED
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